TORMENT: TIDES OF NUMENERA | Acerto crítico

Torment: Tides of Numenera é um RPG isométrico desenvolvido pela Obsidian. Para os que não conhecem, ela é uma desenvolvedora que vem fazendo trabalhos incríveis no gênero. Dentre eles, podemos citar os excepcionais Pillars of Eternity (cuja engine esse game utiliza) e Fallout: New Vegas. Além disso, o game vem com a dura missão de ser o sucessor espiritual de Planescape: Torment. Nada menos que um dos RPG’s mais influentes e bem feitos de todos os tempos.

O game é feito por uma empresa que entende do assunto. E é a continuação espiritual de um clássico. Será que ele consegue lidar com a pressão e exceder, ou ficou sendo apenas mais uma das muitas continuações que não dão certo? Peguem seus dados, distribuam seus pontos e se preparem. É hora de mais uma aventura do Jornada Geek.

Vocês começaram caindo do céu…

Torment: Tides of Numenera se passa num futuro distante, onde as linhas de tecnologia e fantasia não são tão bem definidas assim. O cenário é cheio de itens chamados de numenera, artefatos deixados por outros mundos e existências que foram destruídos ao longo do tempo. Serão tecnológicos? Mágicos? As vezes não sabemos, e isso é um dos charmes do jogo.

Tomamos o papel do Last Castoff. Ele, ou ela, é um dos muitos corpos criados e abandonados por um deus chamado de Changing God. Acordamos de um sonho sem memória,e daí seguimos descobrindo o universo , um caminho e nossa própria história. Não tem a mesma nuance e originalidade do Nameless One e sua perda de memória mas funciona bem. Ajuda muito, também, que a história e personagens sejam escritos com maestria.

A história do jogo é muito bem feita, e realmente remete aos RPG’s de antigamente. Hoje em dia quando vemos um RPG pensamos logo em Skyrim, Final Fantasy, Mass Effect e tudo que associamos à esse tipo de jogos. Como, por exemplo, busca por equipamentos, uma história mais engessada, combates refinados e personagens mais pré-determinados. Aqui, felizmente, não vemos isso. Torment: Tides of Numenera é um RPG aos moldes antigos, onde o foco maior é a interpretação e liberdade para criar nosso próprio personagem, tanto em personalidade quanto em habilidades.

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Temos várias maneiras de solucionar um conflito, e isso é ótimo. (Fonte: Reprodução)

Bater ou correr na Nona Dimensão

Diferente dos RPG’s mais atuais, os combates nunca são obrigatórios em Torment: Tides of Numenera. Chamados de Crisis, esses conflitos sempre tem uma solução alternativa, seja ela através de conversa, suborno ou enganação. Isso é algo ótimo por dois motivos: Primeiro, porque aqueles que se interessarem por um roleplay mais pacifista poderão fazê-lo. Citando Planescape novamente, uma de suas características mais legais era que podíamos zerar o jogo sem lutar nenhuma vez! E isso era até encorajado pela história e por nossos seguidores. Se a memória me serve bem podíamos, inclusive, convencer o chefe final a se matar. É algo que não vejo faz tempo, e atesta para o quanto esses dois jogos são abertos em suas possibilidades.

A segunda razão é que o combate, infelizmente, não ficou tão estelar assim. Ele é funcional, e usa o esquema de turnos. Temos habilidades para usar, equipamentos, um time que nos ajuda e tudo mais. Mas ele não é muito bem balanceado e pode ser meio frustrante as vezes. Mas, como disse, não é obrigatório. Aqueles que não curtirem, como eu, podem simplesmente tentar falar e enrolar para vencer todos os combates sem uma gotinha de sangue sequer.

Esse tipo de liberdade é realmente incrível, e ajuda a mostrar como esse jogo tem uma cara de RPG de mesa, tipo o lendário Dungeons & Dragons. Não podemos fazer literalmente tudo como em um RPG narrado, mas a gama de opções que temos aqui é realmente impressionante.

https://www.youtube.com/watch?v=Z7-zfo1LXxs

Mecânicas interessantes de verdade

Uma das coisas mais legais que achei foi o sistema de feats. Temos três principais, chamados de might, speedintellect. Temos uma quantidade específica de pontos, que depende de nossa classe e arquétipo, para gastar quando realizamos uma determinada ação. Por exemplo, em certa feita eu decidi dar uma bica em uma máquina para que ela funcionasse. GENIAL! Mas, meu personagem era um mago com a força de um grilo. Usando meus (poucos) pontos de might pude aumentar a chance de meu chute ter algum resultado, o que fez a ação ser bem sucedida. Se fosse em um outro RPG mais tradicional como Fallout 4, por exemplo, eu iria falhar vergonhosamente. Aqui, eu tive uma chance. E como esses pontos são difíceis de conseguir o sistema fica bom, ser deixar as coisas fáceis demais.

Outra coisa maneira é com as habilidades. Além de ajudar em combate, temos algumas que influenciam o mundo e como enxergamos ele. Por exemplo, eu tinha uma que permitia com que eu lesse a mente de pessoas que conversavam comigo. Além de ser super interessante em conceito, ajudava bastante na hora de tentar entender as motivações e personalidades dos vários NPCs que interagiram comigo durante minhas viagens.

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Era uma casa muito engraçada. Tinha dentes e queria me engolir. (Fonte: Reprodução)

Muita leitura

Como eu disse antes, a história do game é muito bem construída. Assim como seus personagens. Tudo aqui foi feito com carinho e esmero, e isso fica aparente nas narrações e relacionamentos entre os personagens. Temos milhares de linhas de texto que, além de mostrar diálogos, falam mais sobre o cenário e indivíduos de uma maneira descritiva, igual vemos em RPG’s clássicos de mesa.

Isso é muito bom, e foi um ponto positivo para mim. Mas, admito que certas vezes me dei de cara com uma parede de texto tão enorme que acabei me sentindo um pouco entediado. Tudo que lemos é interessante e bem feito, mas o excesso leva, algumas vezes, a chateação.  Um outro negativo é que o game não possui nada traduzido para português. Portanto, é necessário um domínio avançado da língua inglesa para aproveitar tudo que a história tem a oferecer.

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Desenvolvendo o gosto pela leitura. (Fonte: Reprodução)

Considerações Finais

Resumindo em apenas uma sentença: Torment: Tides of Numenera é um jogaço. Não é perfeito, mas é um dos melhores RPG’s que tive o prazer de jogar nos últimos anos.

Algumas coisas poderiam ser melhores, claro. O jogo pode ficar um pouco entediante por conta de toda a leitura que deve ser feita. Os gráficos não são estelares, e os modelos são um pouco estranhos as vezes. As animações poderiam ter ficado mais caprichadas. O combate é funcional, porém frustrante.

Mas todo resto é feito com tanto cuidado e maestria que esses erros ficam fáceis de serem relevados. Uma história forte e intrigante, toneladas de conteúdo, caminhos diferentes a serem seguidos, decisões que realmente tem peso e mudam o andamento da trama. Personagens bem construídos, um sistema de customização de habilidades e classes robusto, diversas maneiras de se resolverem conflitos… tantas coisas bem feitas, e que não vemos mais hoje em dia.

Torment: Tides of Numenera é um retorno à forma para os RPG’s, e digno de se chamar de sucessor espiritual de Planescape: Torment. Se você é fã de jogos do gênero, ou de histórias bem contadas e cativantes, então não precisa procurar mais. Esse é o game certo para focar sua atenção e investir suas horas de jogatina. Caia de cabeça na Nona Dimensão, prometo que não vai se arrepender.

O game foi lançado no dia 28 de fevereiro deste ano e está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. A média do jogo varia de 76 e 82, de acordo com a versão.

Nota ótimo

 *Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.