PEQUENAS GRANDES MENTIRAS | LITERATURA

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Umas das melhores coisas da vida, é quando você começa um livro sem muitas expectativas e acaba se surpreendendo com absolutamente tudo, desde a narrativa até o desenrolar dos acontecimentos. Foi o que aconteceu ao ler Pequenas Grandes Mentiras, da autora Liane Moriarty. O livro gira em torno de um corrido durante o encontro de pais dos alunos da Escola Pirriwee. Durante a noite do Concurso de Perguntas, onde os pais estão fantasiados de Audrey Hepburn e Elvis Presley, eles começam a discutir já no portão de entrada, e, da varanda onde um pequeno grupo se juntou, alguém cai e morre. Mas quem morreu? Foi um acidente? Assassinato? Essas respostas são dadas seguindo a vida de três mulheres, cada uma delas diante de uma encruzilhada.

Madeline é forte e decidida. No segundo casamento, está muito chateada porque a filha do primeiro relacionamento quer morar com o pai e a jovem madrasta. Não bastasse isso, Skye, a filha do ex-marido com a nova mulher, está matriculada no mesmo jardim de infância da caçula de Madeline. Celeste, mãe dos gêmeos Max e Josh, é uma mulher invejável. É magra, rica e bonita, e seu casamento com Perry parece perfeito demais para ser verdade. Celeste e Madeleine ficam amigas de Jane, a jovem mãe solteira que se mudou para a cidade com o filho, Ziggy, fruto de uma noite malsucedida. Quando Ziggy é acusado de bullying, as opiniões dos pais se dividem, causando tensões nos pequenos grupos de mães.

É dessa forma que somos levados ao fatídico dia, seguindo o que acontece na vida de cada uma delas. De início, imaginei que a autora fosse acabar transformando o livro em algo tedioso e cheio de assuntos que tantos outros autores estão tratando hoje em dia. Mas, de um jeito surpreendente, Moriarty agarra o leitor com suas palavras simples, mas surpreendentes, mostrando que ate mesmo os fatos corriqueiros do dia-a-dia podem culminar em uma história grandiosa, cheia de personagens que causam simpatia ou repulsa. O primeiro grande acerto vem dos personagens construídos de forma a não serem o que aparentam à primeira vista. Celeste pode parecer apenas uma dondoca, Jane uma mão nova que não sabe o que faz, e Madeline uma mãe psicótica que não sabe dar espaço para seus filhos. No entanto, por trás de tudo isso há histórias de vidas que você nunca poderia imaginar.

Isso leva ao fato de que o enredo de cada uma é feito para não apenas surpreender, mas chocar o leitor. Estupro, agressão domestica, separação, esses são alguns dos temas que Moriarty utiliza com uma pitada de humor negro que funciona muito bem do início ao fim. Como o livro é contado do ponto de vista das três personagens, as respostas – ou suas histórias – são mostradas de forma gradual, por isso largar o livro tornou-se quase impossível, uma vez que várias e várias perguntas foram se formando ao longo da leitura, me deixando curioso para saber o que viria a seguir. A autora humaniza tanto suas personagens, embrenha tanto em seus mais profundos medos, que às vezes eu sentia como se pudesse conversar com cada uma das personagens, e até mesmo sentir suas dores ou repulsas.

Além de uma narrativa intrincada e envolvente, personagens tão bem humanizados e um talento único para prender o leitor, Moriarty ainda conseguiu me surpreender amarrando muito bem cada detalhe, e unindo a histórias das três mulheres de um jeito que me fez ficar de boca aberta quando me dei conta de tudo. No seu livro anterior lançado no Brasil, ela parece ter feito o mesmo, mas eu ainda não o li, então não sabia que deveria esperar isso, o que foi uma surpresa bem vinda. Mais do que uma veia forte para o suspense, a autora consegue misturar isso ao cotidiano, coisas simples como bullying, inimizades entre as panelinhas das mães, casamentos desfeitos e filhos dramáticos. É tudo muito pequeno, mas ao mesmo tempo grandioso.

Quanto à versão física do livro, a Intrínseca está de parabéns. A obra foi impressa em um papel maravilhoso, a diagramação é simples, mas contribui positivamente para a leitura, a revisão foi feita com cuidado, e a capa sem dúvida, de uma forma lúdica, expressa muito bem a essência de história e tudo que ela passa para o leitor. Depois de tudo isso, Liane Moriarty com certeza entrou para a lista de minhas autoras queridinhas, e mal posso esperar para ler outro livro dela.