ALIANÇA DO CRIME | CRÍTICA

Classificação:
Bom
Aliança do Crime posterHouve uma época em Hollywood que filmes de gângsteres eram cultuados, assim como os próprios bandidos. Nas décadas de 30 e 40, James Cagney se imortalizou ao dar vida a alguns dos mais famosos do mundo cinematográfico, enquanto John Dillinger era um mafioso popstar que tinha a aprovação da população. Porém, muito tempo se passou, a mística se foi, mas vez ou outra o cinema se lembra deles. Depois de alguns insucessos como Inimigos Públicos (2009) e Caça aos Gângsteres (2012), Aliança do Crime vem mostrar ao novo público um pouco do que o gênero já foi, com muita violência e um Johnny Depp inspirado como a muito não se via.

O filme conta a história de Whitley Bulger (Johnny Depp), um dos mais famosos criminosos da história de Boston. Para se manter no poder, Bulger formou uma perigosa aliança com John Conelly (Joel Edgerton), um agente do FBI, de quem é amigo de infância. Nessa ligação também entra o irmão mais velho de Whitley, o senador Bill Bulger (Benedict Cumberbatch). Porém, quanto mais o espírito violento do gangster se manifesta, mais a aliança começa a ruir, e a ficar perigosa para todos eles.

Tudo bem que Aliança do Crime não se compara a produções inesquecíveis como o clássico Anjos de Cara Suja (1938), ou mesmo a odisseia da família Corleone na obra-prima de Francis Ford Coppola, O Poderoso Chefão (1972), porém há de se valorizar a tentativa de Scott Cooper em fazer um filme que valesse à pena. Ainda que o roteiro de Jez Butterworth, adaptado do livro de Dick Lehr, se mostre um tanto confuso com suas idas e vindas no tempo narrativo, e também perca a densidade emocional da ligação entre os amigos, o longa consegue criar um clima tenso, principalmente quando dá oportunidade de Johnny Depp mostrar seu talento.

Sim, Depp está de volta, depois de fracassos como Diário de um Jornalista Bêbado (2011) e o recente Mortdecai (2015), o ator consegue entrar de corpo e alma na pele de Whitley Bulger. Tanto que consegue passar ao público as nuances da psique de seu personagem, que mesmo sendo um frio assassino, é também um pai apaixonado pelo filho e um filho que se respeita sua mãe. O principal de tudo é que, diferente de seus últimos papéis, Depp não se rende aos trejeitos que sempre nos faz lembrar de seu afetado Jack Sparrow. Mesmo por debaixo de uma maquiagem (boa) bem carregada.

A direção de Scott Cooper é competente, mesmo com os já ditos deslizes do roteiro. Ele consegue conservar o intimismo em explorar seus personagens, principalmente os que são construídos à partir de um maniqueísmo pessoal, que transitam entre seus anjos e demônios, como o fez com maestria no ótimo Coração Louco (2009), e que deu o Oscar para Jeff Bridges. Talvez seu maior acerto seja não buscar referências em outros filmes e diretores, isso deixa seu trabalho singular, com erros e acertos, mas único.

Ainda que apresente seus defeitos no roteiro e não seja propriamente dito um filmaço, Aliança do Crime tem atributos para fazer sucesso com o público. Com violência, suspense e uma pitada de um humor áspero, o longa funciona, porém, sua principal missão foi entregar ao público uma grande atuação de Johnny Depp, como nos bons tempos. E isso, por si só, já vale o ingresso. Missão cumprida.