KONA | O inverno chegou

Kona é um indie bem charmosinho, que teve seu início em uma campanha no Kickstarter há alguns anos. De lá para cá, ele entrou em early access e sempre mostrou um grande potencial.

Muita coisa mudou, e já temos a release final em mãos. Será que esse é um mistério digno de nota, e de encarar as geladas planícies do Quebec? Peguem seus casacos e venham descobrir comigo agora, em mais uma critica do Jornada Geek.

Contando uma história

Kona tem uma premissa simples. Você é um detetive, Carl Faubert, que foi chamado por um rico morador de uma pequena vila nas florestas do Canadá. Seu trabalho: investigar um simples caso de vandalismo. É claro que as coisas nunca são fáceis assim, e essa premissa modesta evolui para um caso de assassinato. Esse e outros mistérios devem ser respondidos ao longo da trama. Simples, funcional, e dá uma motivação clara para prosseguirmos.

O jogo é um pseudo survival. Você tem barras de saúde, temperatura corporal e sanidade, mas elas nunca são um risco real. É simples se aquecer, e sempre podemos correr para nossa querida caminhonete para nos esquentarmos e darmos uma relaxada. E isso é ótimo.

Kona se foca muito mais na construção de um universo pulsante, vivo e pronto para ser experimentado do que em nos fazer passar frio até morrer. Ou ter que lutar contra predadores a todo momento. O que é bom, porque o combate do game é simples demais e muito travado para meu gosto.

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2017, e ainda temos jogos que não nos deixam olhar para nossos próprios pés (Fonte: Reprodução)

Detetive ou bisbilhoteiro?

A graça aqui é andar pelas casas, mexendo em tudo e descobrindo mais sobre a vida de cada pessoa. Tudo que fazemos é descrito por um narrador, que ajuda a dar um tom de conto à história. A voz dele é muito condizente com o tema, e seus comentários sempre tem um tom de humor mais sombrio que eu particularmente achei ótimo. Não é invasivo demais, repetitivo nem chato. E nos ajuda, algumas vezes, a saber o que temos de fazer.

Sendo breve, a atmosfera do game é espetacular. Tudo é montado para dar vida ao cenário, e um detalhe incrível foi dado a cada pequena coisa que fazemos. Olhar para o chão e ver nossos pés, colocar a mão sobre o banco do carro quando damos ré, revelar polaroides na hora da fotografia, esfregar as mão de frio. Tudo aqui ajuda a montar uma atmosfera envolvente, que nos toma pelo braço e nos carrega até o fim da jornada.

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Detalhes como esse fazem toda a diferença. (Fonte:Reprodução)

Sons de uma nevasca que se aproxima

Sendo breve, a sonoplastia do game é simplesmente sensacional. O som dos lobos, da neve amassando sob nossos pés, de lenha queimando na fogueira. Do carro, do ambiente, e as músicas, tudo faz um trabalho maestral em nos chamar para dentro do universo de Kona. O tema principal do game é um dos mais legais que ouvi nesses últimos anos. Me fez ficar parado, apenas olhando para o menu principal e ouvindo até o final.

Eu sempre digo que uma trilha sonora e efeitos de qualidade são primordiais na hora de se contar uma história, e Kona acerta em cheio nesse ponto. Esse é um jogo que precisa ser jogado com fones de ouvido para podermos ouvir e apreciar bem cada pequeno som e detalhe.

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Um paraíso gelado. (Fonte: Reprodução)

Pontos técnicos

O jogo é uma mistura de survival com walking simulator, e sua história é contada em grande parte pelos objetos deixados pelos moradores, fenômenos sobrenaturais e documentos. Se você não gostas de jogos focados em andar e ler, pode ser que este game não seja para você. Não temos explosões, tiros, sangue e mortes. Mas sim uma aventura minimalista e pessoal, pautada em descoberta e curiosidade.

Uma pena que seja amaldiçoada por quedas constantes de framerateloadings nas piores horas possíveis. Algumas horas eu estava tão imerso no game, que apenas meu corpo estava na cadeira com o controle na mão. Minha alma estava no Quebéc, explorando as matas geladas em busca de respostas. Mas, para minha alegria, uma tela de loading de um minuto me chutou de volta para casa na hora, quebrando a imersão que o jogo construiu com tanto esmero.

A falta de localização para o nosso idioma é outro ponto negativo do jogo, já que se trata de um título onde exploração e leitura são fundamentais, e nem todo mundo tem um inglês dominante.

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O mapa não é enorme, mas é muito bem construído. (Fonte: Reprodução)

Finalizando

Kona é um jogo bem feito, que é uma pedida certa para curiosos e exploradores. O game tem uma atmosfera sensacional, que suga o jogador para seu universo com facilidade. Ainda que a história tenha um desfecho mediano, ela ainda faz valer explorar as florestas gélidas e desvendar seus mistérios. Se você é fã de obras surreais de diretores como David Lynch, e de seriados como Twin Peaks, então Kona é algo que você deve conferir quanto antes for possível.

Um desfecho previsível, queda de framerates, combate pouco inspirado, os loadings intrusivos e a falta de localização puxam um pouco da experiência para baixo. Mas a trilha sonora, ambientação, sonoplastia e senso de descoberta são mais que suficientes para levar Kona nas costas e tornar esta uma investigação que detetive nenhum pode deixar passar.

KONA está a venda por R$ 61,50 para PlayStation 4, R$ 39,00 no Xbox One e R$ 36,99 na Steam.

Nota ótimo

*Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.