PREY | Choque no Sistema

Prey é o novo game da Arkane Studios, criadora da série Dishonored, publicado pela Bethesda – famosa por Fallout e The Elder Scrolls. Embora seja o reboot do excelente, e quase nunca reconhecido, Prey (2006) o game é uma reimaginação completa da franquia. Como os próprios diretores da Arkane disseram, apenas a temática básica de enfrentar alienígenas e o nome dos jogos são pontos comuns. Todo resto é novo.

Embora eu esperasse uma continuação mais raiz, ou uma sequência direta como seria com o cancelado Prey 2, eu estava cauteloso quanto a esse recomeço. Será que a Arkane conseguiu criar mais um título de qualidade, ou esse aqui foi pro espaço? Peguem suas chaves de fenda e se preparem. Está na hora de mais uma análise do Jornada Geek.

Houston, temos um problema

Prey se passa na estação de Talos I, uma maravilha da engenharia moderna. Lá eram feitas muitas pesquisas envolvendo seres extraterrestres. E, também, meios de fornecer conhecimento e habilidades aos seres humanos através da implantação de chips batizados de neuromods. Pra variar, algo deu muito – mas muito errado! Alienígenas chamados de Typhon invadiram o lugar e mataram quase todos os tripulantes.

Controlamos um dos poucos sobreviventes. Podemos escolher o sexo de nosso herói ou heroína, que é conhecido como Morgan Yu. Irei me referir a Morgan no feminino, pois foi o que eu escolhi jogar. Contar mais que isso seria matar a surpresa da história, que é surpreendentemente boa e bem escrita. Ainda que ela seja vaga no começo, as coisas pegam um gás bom para o meio e chegam a uma conclusão satisfatória. Apenas digo: vejam o final e tirem suas próprias conclusões.

Ainda que seja a mesma ideia de isolamento e aliens do game de 2006, a história é completamente diferente. Não temos mais protagonistas indígenas e tons espirituais na jornada. Aqui a onda é muito mais sci-fi. Ainda que eu ache a premissa original mais refrescante, essa funcionou e foi bem implementada. Nisso não ficou devendo nada ao original.

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Vai um colírio aí, campeão? (Fonte: Reprodução)

Sobre o ombro de gigantes

Uma das primeiras coisas que notei foi como esse jogo me lembrou System Shock. Para quem não conhece, esse é um clássico do Survival Horror e inspiração que originou o lendário Bioshock. Podemos notar as referências logo na primeira arma que conseguimos, a boa e velha chave de fenda. Assim como em BioshockPrey se passa em um ambiente completamente desolado, salvo pelos Typhons e cadáveres da tripulação. Nossa única amiga é January, que conversa conosco através de um comunicador.

Quando eu faço essa observação, não digo como algo ruim. O jogo é um ode aos clássicos do passado, homenageando suas melhores partes sem ser uma cópia barata. A Arkane entendeu o que fez esses jogos brilharem, sua essência. Ela compreendeu, honrou e adaptou dentro das mecânicas usadas para criar Prey, e o resultado dificilmente poderia ser melhor. Temos, aqui, um forte candidato à jogo do ano em sua categoria.

O clima de isolamento da estação é incrível, e faz a atmosfera ser igualmente deprimente e solitária. Além disso, serve para manter uma tensão constante, principalmente pelo fato dos inimigos poderem se disfarçar como objetos do cenário. Duas canecas de café em uma mesa? Melhor ficar de olho parceira. Pode ser um alien querendo te assimilar.

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Um dos grandes sinais que um jogo é inspirado em System Shock é ter uma chave de fenda como arma inicial. (Fonte: Divulgação)

Malditas canecas de café

Os typhons tem uma habilidade interessante, e original, de se transformar em itens do cenário. Isso faz com que estejamos sempre ligados e sem saber de onde virá o ataque. Mais pra frente conseguimos uma habilidade que nos permite enxergar através desse truque, mas até lá espere muitos sustos e mortes inesperadas.

Certa vez eu estava chegando em uma mesa para xeretar num computador atrás de senhas para portas e tive minha vida arrancada por um alien disfarçado como uma maçã. Outra vez, fiquei todo feliz por achar minha primeira arma de fogo. SÓ QUE NÃO. NADA DE PROTEÇÃO PARA VOCÊ SRA. MORGAN, CARREGUE SEU JOGO DO ÚLTIMO SALVAMENTO. Eu fiquei revoltado na hora, mas foi a primeira vez que algo do tipo aconteceu comigo em todos esses anos nessa indústria vital. Inesperado, criativo e um tanto quanto memorável.

Após certo tempo pode ficar um pouco frustrante, principalmente porque tem um efeito sonoro que mostra quando um inimigo vai surgir do nada. É efetivo e ajuda, mas quebra um pouco da surpresa. Algumas vezes, também, ele ativa sem que haja nenhum perigo por perto. Esses foram meus momentos mais tensos. Sem saber se haviam inimigos ou não, olhando todo canto. Essa atmosfera, essa sensação de vulnerabilidade e forte presença dos antagonistas elevam Prey a um alto patamar em seu meio.

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Conselho de malandro: destruam todas as canequinhas. (Fonte: Reprodução)

Melhor não encarar

Como nada é perfeito, vou reclamar de duas coisas aqui. Primeiro, do combate. Embora tenhamos uma boa gama de armas e sejam criativas, o combate é bem fraco. Os golpes e tiros não tem impacto, e devido a mobilidade dos inimigos muitas vezes acaba sendo questão de sorte acertar ou não. Bom que podemos ser sorrateiros e evitar brigas desnecessárias.

Outro negativo é o tempo de carregamento. Os loadings iniciais levam um bom tempo para acontecer, o que incomoda um pouco. Felizmente, após isso podemos explorar as áreas livremente. Mas mudar de área para área dá um pouco de desanimo devido ao tanto de tempo que temos que ficar esperando.

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As armas são variadas e imaginativas. (Fonte: Reprodução).

Sons e visuais espaciais

O visual do jogo é maneiro para caramba, e a estação é muito detalhada. Temos itens pequenos como canecas e fotos que dão vida às estações de trabalho. E as texturas e modelos são muito bem feitas na maioria do tempo. Claro, vemos algo serrilhado ou com baixa definição vez ou outra, mas nada que seja muito perceptível. O visual do jogo agradou bastante, e o design das fases foi feito de maneira magistral. Principalmente por implementar as armas como maneiras de se explorar e alcançar lugares mais difíceis. Esse tipo de interação é rara hoje em dia, e muito bem vinda.

A trilha sonora é muito bem feita, e eu recomendo fortemente que joguem usando um headset. Não apenas para ouvir as batidas e sons da estação, ou dos inimigos, ou as dicas visuais de que algo tenso está para acontecer. Mas, também, para aproveitar as músicas. Todas são muito bem feitas e caem como luvas nos momentos em que são usadas. Confiram a trilha de abertura do jogo, uma das minhas preferidas e que entrou para minha playlist pessoal:

Veredito

Prey foi uma das minhas surpresas mais agradáveis desse ano. Eu sou chato com reboots, e podia jurar que esse seria mais um dos casos que revivem uma franquia apenas pelo nome. Mas, felizmente, a Arkane mandou bem demais e criou mais uma joia para sua coleção de sucessos.

Seja por fazer jus ao legado de System Shock, seja por incluir novas ideias e melhorias para o conceito, Prey conseguiu se inspirar e honrar os gigantes do passado sem deixar de contribuir para o crescimento e melhoria do gênero como um todo. Com uma duração considerável, história intrigante, possibilidade de customização de habilidades e itens, tem muito que se amar aqui. Ah, e tudo dublado e legendado em português!

E eu nem falei a fundo sobre as habilidades Typhon que recebemos, e como seu uso impacta no gameplay e na história. Essa deixo para vocês descobrirem, e se surpreenderem como eu. Porque Prey é isso. Cair no desconhecido, explorar cada canto, ler cada documento e descobrir. É tomar sustos e ficar na ponta da cadeira, é se sentir acuado e pensar rápido em como sair daquela situação drástica. É ficar aflito sem saber o que te espera, em ponderar se a curiosidade vale o risco de dar de cara com uma aberração travestida de utensílio doméstico. Em suma? Prey é realmente bom demais!

O game foi lançado para PlayStation 4, Xbox One e PC no dia 5 de maio. Até o momento, a média do game no Metacritic é 79 na versão de PS4, 85 para PC e 88 para Xbox One.

Nota Surpreendente

 *Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.