O REGRESSO | LITERATURA

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Quando solicitei O Regresso, foi na intenção de ler o livro antes de assistir ao filme. Não sabia absolutamente nada do enredo – a não ser que era basicamente sobre uma jornada de vingança – nem da obra literária e muito menos sobre a cinematográfica. Digo isso, pra evidenciar que eu não nutria nenhuma expectativa sobre o livro, o que, em minha opinião, foi algo bom, já que me surpreendi bastante no decorrer da leitura, tanto que imediatamente após concluir, tive que correr para ver o filme, e assim poder constatar o quanto dele foi para as telas. Tive algumas surpresas, e decepções, mas vamos voltar ao livro que é o que realmente importa.

O Regresso tem como base o ano de 1823, onde os caçadores da Companhia de Peles Montanhas Rochosas desbravavam as terras inexploradas dos Estados Unidos, enfrentando diariamente o clima implacável, as feras selvagens e a ameaça constante de confronto com os índios, que defendiam suas terras da invasão dos homens brancos.
Em uma das missões da companhia, Hugh Glass, um dos melhores e mais experientes caçadores do grupo, fica frente a frente com um urso-cinzento, é atacado e termina gravemente ferido, claramente sem chances de sobreviver.

Os homens deixados por pela Capitão Henry que deveriam esperar sua morte e lhe oferecer um funeral apropriado o abandonam, levando consigo as armas e os suprimentos. Entre delírios, Glass os observa fugindo e é tomado por um único desejo: vingança. Uma determinação cega que o torna capaz de atravessar quase cinco mil quilômetros de terras intocadas e selvagens, fugindo de predadores, sobrevivendo à fome e à agonia dos ferimentos mais terríveis, a fim de concluir seu objetivo.

Acho que devo começar dizendo que acima de tudo, O Regresso é um livro forte e cruel. É obviamente uma obra que prende o leitor desde os primeiros capítulos, não somente pelas descrições das paisagens, mas porque é, mesmo que não tenha sido a intenção, uma grande aula de história. Graças a narrativa de Punke, as informações são inseridas na história com uma simplicidade e sagacidade interessante. Diferentemente de alguns tantos livros que li, o enredo não se torna fraco ou cansativo por causa das referências, pelo contrário, deixou a leitura mais atraente e com certeza fascinante.

Eu sempre comento sobre os personagens, e isso porque é neste ponto que eu consigo sentir se o autor teve cuidado ou não na hora de moldar cada personagem. O livro, de acordo com a sinopse – que não li antes de iniciar a leitura – foi inspirado em fatos reais, e por mais que muitos imaginem que é mais fácil ter um personagem “pronto”, eu digo que não é. Imagino a pesquisa incansável que o autor teve de fazer para mesclar realidade e fantasia, e de forma espetacular ele conseguiu criar uma ponte instigante entre essas duas bases. Além disso, há alguns que foram criados pelo próprio Punke, e pela forma com a qual me afeiçoei a eles, ficou claro que o autor é bom no que faz.

O único ponto que me deixou decepcionado, mas que eu agora imagino que não deveria, e seria evitado se eu tivesse lido a sinopse e visto que a obra é baseada em fatos reais, foi o final. Todo o livro é tão cruel, narra todas as provações pela qual Glass passa – luta com lobos por comida, dias de fome, vermes saindo pelas feridas, tudo descrito majestosamente bem – que eu pensei que as coisas iriam por um caminho diferente. Talvez, o autor quisesse apenas manter limpa a memória do verdadeiro Glass, ou talvez foi algo que ele achou que ficaria melhor no enredo, de qualquer forma, eu esperava algo mais parecido como o que foi mostrado no filme.

Sobre edição da obra, uma coisa que posso dizer com toda certeza, é que O Regresso tem uma das capas mais lindas da minha estante. A escolha por não por ninguém na capa, e fazer essa nuance de azul com labaredas foi uma escolha incrível. Quanto à revisão, a Intrínseca raramente peca, e esse é um caso de sucesso, pois não encontrei  nenhum erro de revisão, a diagramação é agradável e o tamanho das letras ideal.

Desde já, deixo claro que espero por mais livros do Michael Punke, e claro, com aquela vontade de ser algo também mais puxado para o histórico, porque após contatar o quão bem ele consegue contar uma história sem deixá-la monótona, só me resta desejar um pouco mais do mesmo. Não sou muito de recomendar ou deixar de recomendar livros, mas O Regresso é sem dúvida algo precioso e raro de se encontrar, tanto em história, quanto em boa escrita.