O REGRESSO | CRÍTICA

Classificação:
Excelente

O regresso posterAlejandro G. Inarritu sempre foi um diretor de talento, que fez bons trabalhos em sua terra natal, o México, como o excelente Amores Brutos (2000). Quando foi levado à Hollywood, conseguiu emplacar um grande sucesso da crítica, 21 Gramas (2003), que contava com Sean Penn, Naomi Watts e Benício Del Toro no elenco. Aí veio Babel (2006) e depois Biutiful (2010) que acabou por consolidar sua carreira. Porém, foi com o multipremiado Birdman, ano passado, é que chegou ao Olimpo. Agora, ele repete a dose com um filme que narra uma simples busca por vingança, porém com um visual extraordinário, direção impecável e uma atuação que pode dar o tão esperado Oscar de Leonardo DiCaprio.

Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é um caçador que junto com sua equipe estão em busca de peles. Porém, quando ele é atacado por um urso e fica à beira da morte, fica uma dúvida sobre o que fazer a respeito. John Fitzgerald (Tom Hardy) decide ficar com ele e seu filho mestiço, mas, acaba assassinando o rapaz e deixando Glass semi enterrado para morrer. Mas ele sobrevive e passa por muitos desafios, físicos e mentais, para finalmente encontrar seu algoz e ter sua esperada vingança.

Não há como não se impressionar com o visual deslumbrante e agressivo de O Regresso logo na primeira cena do filme. É como se Inarritu nos jogasse em meio aquele bando de caçadores e presenciássemos tudo em primeira pessoa, sentindo e interagindo com os personagens, enfrentando os indígenas, morrendo e vivendo. Apesar de o roteiro que o próprio Inarritu assina, ao lado de Mark L. Smith, baseado no livro de Michael Punke, ser um tanto simples e sem grandes reviravoltas e carecer de uma conclusão mais dramática, o filme se vale de uma composição visual que faz do simples uma obra de arte.

Em meio a neve, ao sangue, aos tiros e os índios, estamos perdidos em um mundo cruel, hostil, onde homens são reduzidos a caça-níqueis sem coração, sem compaixão. O que importa é a pele, a caça, o lucro. É aí que entra a mão de Alejandro González-Inarritu, pois ele torna esse mundo algo em que conseguimos identificar um ser humano, que é obrigado a ver o assassinato do filho, e se arrastar em busca da sua própria justiça. O trunfo do longa é não se deixar se apegar em transfigurações, em que o personagens sofre uma elevação, ou coisa do tipo. Glass quer apenas vingança, nada mais do que isso, e fará tudo para consegui-la.

A direção é maravilhosa, sensorial, de uma capacidade anormal de se conseguir capturar a atenção do espectador. É quase uma hipnose, que mesmo em meio a brutalidade, somos seduzidos pelo lirismo impresso a cada segundo de filme. E tudo isso funciona pelo trabalho fenomenal de Emmanuel Lubeszki, e sua câmera invasiva, que captura, sob luz natural, todos os gestos e sentimentos que o perseverante Hugh Glass transmite. Em determinados momentos a impressão é de que seremos atingidos por respingos de sangue ou atacados por um urso feroz.

Por falar nele, Inarritu, assim como fez em Birdman, soube como poucos se utilizar das ferramentas do cinema contemporâneo à favor de sua arte, e isso está tornando sua marca registrada. Seja pelas passagens surreais que conseguem se conectar com o conteúdo de seu texto, ou pela forma como realizou uma das mais espetaculares cenas de violência que o cinema já viu. Ou alguém conseguiu não ficar impressionado com a realidade incrível com que o gigantesco urso pardo que atacou Glass foi feito? Uma sequência que com certeza ficará para história.

Contudo, o ponto essencial de O Regresso está na atuação formidável de Leonardo DiCaprio (mais uma), diferente de todos seus papéis anteriores, ele consegue entregar uma atuação física, viril, que lhe exigiu se alimentar de carne crua de bisão, entrar em uma carcaça de cavalo, entrar em rios gelados. Mesmo que não seja o melhor papel de sua carreira, é, com certeza, o que mais impressiona. Pode ser, enfim, depois de todos esses anos de espera, a hora de o galã ganhar seu merecido Oscar. Só isso já seria o suficiente para valer o ingresso.