MOONLIGHT – SOB A LUZ DO LUAR | CRÍTICA

Classificação:
Nota Surpreendente

Moonlight poster brasilMuitos filmes já se perderam tentando trazer ao público um punhado de discussões ao mesmo tempo em sua projeção, sofrendo de indecisão do roteiro ou mesmo falta de profundidade em cada item imposto. É uma habilidade rara conseguir alinhar mais de uma linha narrativa em um mesmo roteiro e no fim conseguir um resultado completamente satisfatório. Porém, Moonlight – Sob a Luz do Luar consegue atingir este feito sem apelar a uma duração exagerada, além de imprimir uma sensibilidade singular sob uma fotografia impressionante e atuações competentes.

No filme acompanhamos três etapas da vida de Chiron, que quando criança (Alex R. Hibbert) sofre com a perseguição dos amigos e cria uma relação fraternal com o traficante Juan (Mahershala Ali, ótimo). Em sua adolescência (Ashton Sanders) ele experimenta o bullying em seu estado mais violento, enquanto tem que lidar sua mãe (Naomi Harris, ótima) cada vez mais afundada no vício em drogas, e a descoberta de sua homossexualidade. Já adulto (Trevante Rhodes), ele vive em mundo que criou para se defender. Mas o passado volta para lhe mostrar que tem coisas que não se pode ignorar.

Não há como não ficar hipnotizado pela trama de Moonlight – Sob a Luz do Luar. O roteiro escrito pelo próprio diretor consegue aglutinar várias linhas narrativas em uma mesma projeção, mas, sem criar outros núcleos de personagens para conseguir tal feito. Chiron vive três momentos distintos de sua vida, onde em cada um deles tem um subtítulo que revela um pouco de sua personalidade.

Como criança onde é o Little e é pequeno demais entender questões como sua sexualidade (sintetizadas em um diálogo excepcional com Mahershala Ali). Na adolescência utiliza seu próprio nome e sofre por não conseguir encontrar sua identidade e assumir a sexualidade. Quando adulto ele é o Black, um escudo truculento para se defender de todo sofrimento que já experimentou. Todas essas fases conseguem nos tocar perfeitamente devido a boa atuação dos jovens atores que dão vida ao protagonista. Tanto que apenas pela linguagem corporal deles podemos imaginar o que estão sentindo.

Além da questão da homossexualidade de Chiron, Barry Jenkins introduz na vida de seu herói (sim, por que não?) as problemáticas que qualquer jovem do subúrbio violento de Miami dos anos 90 enfrentaria, como a violência e o problemas com as drogas, exemplificada nas imagens fortes de Ali e Harris (ambos indicados ao Oscar de coadjuvante). Tudo no filme é conduzido na mesma intensidade, se utilizando muito de um lirismo construído pela fotografia imagética de James Laxton e trilha sonora metálica de Nicholas Brittel.

Dentre todos os indicados ao Oscar de melhor filme, Moonlight – Sob a Luz do Luar é com certeza o que mais tem chances de ser unanimidade, tanto pela sua trama que consegue cativar o público, quanto pela sua qualidade técnica e textual de alto nível que seduziu a crítica. Suas oito indicações ao prêmio da Academia só veio mesmo para coroar um trabalho impressionante que desde já tem seu lugar cativo entre os melhores filmes do século 21.