2DARK | Quem tem medo do escuro?

2Dark é o novo game de Frédérick Raynal, um dos pais do survival horror moderno e criador de Alone in the Dark.

Quando recebemos 2Dark para analisar, fiquei realmente intrigado. Não tanto pelo visual e premissa, admito, mas pelo pedigree do título e de seu criador. O primeiro Alone in the Dark foi um dos precursores do horror moderno. Portanto, não é surpresa eu começar a jogar o título com altas esperanças. Será que Frédérick Raynal ainda tem o dom para conduzir uma sinfonia de horrores com a mesma maestria que possuía em 1992? Vamos ver agora, em mais uma review do Jornada Geek

2Dark tela principal
Dá pra sacar o tom do jogo só pelo menu principal (Foto: Reprodução)

Aprendam crianças: florestas escuras não são seguras

2Dark começa mostrando nosso personagem principal, detetive Smith, em um acampamento em família. Tudo muito normal e bonito, no meio de uma mata fechada e escura. Realmente, Smith, parece um excelente lugar para se levar a patroa e as crianças! Bom, depois de problemas técnicos, a esposa e os filhos do detetive vão buscar galhos enquanto ele fica arrumando a barraca para eles dormirem. Após certo tempo, Smith ouve um grito e vai investigar. Ele encontra o corpo de sua esposa decepado e seus filhos dentro de uma van que vai acelerando na distância.

2DARK começo da história
Não seria melhor ter ido na praia? (Foto: Reprodução)

Após umas décadas procurando, ele chega à uma cidade chamada Gloomyditch (mesmo nome da produtora do game) em busca de respostas. O que se desenrola depois é uma aventura, com cerca de dez horas de duração, para encontrar os filhos do nosso protagonista e outras crianças que foram sequestradas por um bando de psicopatas assassinos. E palhaços, porque eles nunca estão envolvidos com nada de bom nesse tipo de jogo. Eu achei um começo adequado para o game, com todo esse feel de filme de terror B. É bem básico e já foi batido por várias outras obras, mas funciona bem dentro do que é proposto aqui

Uma coisa que o game mostra bem são as consequências de Smith falhar em sua jornada. Os sequestradores são psicopatas, e eles realmente matam as crianças se ele falhar. É raríssimo vermos games mostrando a morte de crianças hoje em dia, e 2Dark é um que não pega leve nesse quesito. Em meu tempo de jogo vi criancinhas comidas por leões, mortas à pauladas, esfaqueadas, entre outros. Pode ser realmente ofensivo e pesado, mas reconheço a coragem da Gloomyditch em mostrar esse tipo de coisa.

2DARK foto família
Smith é um cara realmente deprimido. (Foto: Reprodução)

Imagens e sons de desespero

Uma coisa que vai dividir opiniões em 2Dark é o gráfico do game. Ele foi feito num estilo cute, com bonecos cabeçudos e com proporções estranhas. Isso gera um contraste bem forte, principalmente quando vemos esses seres bonitinhos tomando tiros e facadas. Os cenários são bem atmosféricos e passam um sentimento de claustrofobia e opressão que eu, particularmente, gostei para caramba. Mas, no fim das contas, o visual do jogo não me agradou muito. Eu acho legal da desenvolvedora investir em novas ideias e dar um estilo único ao game, mas personagens bonitinhos e massacres não casam bem, na minha opinião.

2Dark gameplay
Não sei se fico encantando com os personagens ou incomodado com o cenário. (Foto: Divulgação)

Quanto à sonoplastia, não tem muito o que contar aqui. Os sons das armas e dos personagens é competente, assim como o grito das crianças. A trilha sonora deixou um pouco à desejar, principalmente porque ela se repete demais em alguns cenários. O primeiro estágio, por exemplo, é um circo. Cara, como eu odeio circos. Enfim, a música nesse cenário se repete a todo o momento, em intervalos pequenos de tempo. Além de diminuir a imersão (o que é uma pena, porque esse cenário em particular é sensacional) acaba sendo chato com o passar das horas.

Resumindo, gostar ou não dos visuais vai ser algo bem mais pessoal que o normal. Eu, particularmente, iria preferir algo mais comum e pé no chão para games desse tipo. Mas algumas outras pessoas podem achar o contraste legal e funcional. O som funciona, ainda que a trilha sonora não seja algo que se destaque muito.

2Dark gameplay 2
Cadeados, os maiores inimigos de nossos heróis desde sempre. (Foto: Reprodução)

Controlando o detetive

Uma coisa que eu achei que podia ser melhor foi o gameplay de 2Dark. O jogo é, na real, baseado em stealth. Temos pouquíssimos recursos e munições, e os inimigos demoram horrores para morrer. Por isso, para salvar as crianças em cada cenário, precisamos ser furtivos e usar bem das sombras para nos esgueirar e passarmos desapercebidos. Por isso, o combate do jogo é bem simplório. Vire de frente para o que quer acertar e bata. Não é nada de refinado ou incrível, mas funciona.

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Mas eu só queria dar uma olhadinha. (Foto: Reprodução)

Além disso, o game é muito baseado em tentativa e erro. Talvez pelo fato de podermos salvar onde quisermos fazendo uma pausa para fumar um cigarro. Esse esquema de save ficou bem legal, e algo interessante é que salvar demais pode dar uma crise de tosse no protagonista que ajuda os inimigos próximos a nos encontrarem. Cigarros são ruins para nossa saúde, crianças!

Quanto à tentativa e erro, ocorre o seguinte: os mapas são escuros demais, e cheios de armadilhas. Muitas vezes vamos morrer sem nem ver o que está acontecendo. E os inimigos dão dano demais, nos matando com facilidade. Por isso, prepare para dar muito load nos seus saves antigos enquanto estiver procurando pelos pequenos desaparecidos. Outra coisa que achei ruim é que o personagem anda devagar demais. Em cenários maiores acaba sendo um porre, pois ele leva um tempo bom para ir de uma ponta até outra.

2dark palhaços
Eu realmente não gosto nada de palhaços. (Foto: Reprodução)

Uma luz no fim do túnel

Afinal, 2Dark é um game que vale a pena? Vai depender, basicamente, de três coisas: você gostou do estilo visual e da premissa? Você gosta de games com foco total em stealth e um certo grau de tentativa e erro? E você acha o preço condizente?

Uma coisa que achei excessiva foi o preço cobrado pelo título. No momento da criação dessa review, ele estava por R$ 79 na Steam, R$ 89 na Microsoft Store e R$ 107,50 na PSN. Eu entendo que todo game tem custos de desenvolvimento, mas esse foi um jogo custeado por crowdfunding e é um título indie, sem muitas novidades e excessos. É um custo salgado que vem sendo notado por vários jogadores e meios de comunicação.

Mas entre sequestrados e feridos todos acabaram se salvando. Eu achei um jogo legal de analisar e bem atmosférico, e a história até que me prendeu mesmo sendo algo básico e sem desviar da fórmula. Talvez eu fosse menos enjoado com o game se ele não fosse filho do criador de Alone in the Dark.

No fim das contas, 2Dark é uma boa recomendação para os fãs de terror e de games que não tem medo de mostrar violência e alguns temas que são tabu na indústria. Eu só sugeriria esperar um pouco mais por uma promoção que coloque o valor cobrado pelo título um pouco mais dentro da faixa de preço adequada.

*Review elaborado usando a versão de PS4 do jogo. Cópia fornecida pela desenvolvedora.